sexta-feira, 11 de julho de 2014

Na moral, provocações é muito melhor.

Davenir Viganon
O programa Na Moral, veio com uma proposta de ser um programa de debates na Rede Globo. O resultado é um programa não consegue (se é que tenta) romper com a lógica anti-debate da emissora. E o último programa, na última quarta-feira (dia 10) é um exemplo disso.
A pauta foi o Racismo nas Telenovelas, e contou com a presença de Joel Zito, que dirigiu o maravilhoso documentário A Negação do Brasil, das atrizes Thaís Araújo, Zezé Motta, do cantor Tiaginho e do diretor Daniel Filho.
Documentário "A Negação do Brasil"
O debate usou a argumentação básica do documentário que evidencia o pouco espaço dado a atores negros nas telenovelas. Foi argumentado brevemente no programa, que ao longo do tempo os negros foram ganhando espaço paulatinamente.
Até ai as argumentações foram bem parecidas com o filme, porém o debate tomou um rumo diferente do documentário. Na película, fica patente que muito pouco se avançou na reapresentação do negro na teledramaturgia e que muitos estereótipos ainda se mantém, como o da Mammy. No programa foi uma comemoração ao que se avançou em relação ao fim do documentário, como por exemplo, a primeira novela com uma personagem principal negra, "A Cor do Pecado", que tinha no papel principal Thaís Araújo, presente no programa. Também houve elogios a novela "Lado a Lado", que concordo que tem seu valor. Ao mesmo tempo que se reconhecia o racismo, os casos de preconceitos nas telenovelas foram sempre referentes como coisa do passado. Será que alguém comentou das Mammys da novela que havia passado na mesma noite? Será que alguém comentou o lugar que Manuel Carlos sempre reservou aos negros em suas novelas?
Podem até ter comentado, mas a Rede Globo dispõe de duas táticas para evitar que esse tipo de questionamento apareça.
Programa "Na Moral" do dia 10/07/2014 
A primeira e mais óbvia é a edição do programa. Pode parecer óbvio, mas partes do debate podem ser simplesmente cortadas. Neste programa foi mais escandaloso, pois foi um bloco inteiro removido. Onde seria debatido o programa de cotas no Brasil. Na verdade foi debatido, mas não foi exibido[1]. Outra tática é encher o palco de situações que podem desvia a atenção e são costumeira mente usadas para cortar uma fala que vá contra a emissora. Isso é muito usado em programas exibidos Ao Vivo, e geralmente a atração musical cumpre essa função.
Assim poupou-se o novelista da casa, Manoel Carlos, de criticas e elogiou-se os Estados Unidos, pois segundo o que foi "debatido" no programa os negros "lá" tem maior poder de compra e que estão muito "à frente" que nós. Faltou alguém para dizer as diferenças do racismo lá e aqui.
O grande alento, foi poder ouvir Joel Zito, conceituar o Branqueamento Estético a qual são vítimas os negros no Brasil e espero que isto não tenha se perdido nas brumas da edição.
Mas o que mais entristece não é o debate ralinho da Globo, pois a este já não surpreende, mas é ver um programa como o Provocações apresentado por Antonio Abujamra ser tão pouco conhecido do grande público. Chamo a atenção deste, pois Antonio privilegia justamente o que a Globo procura capar em seus programas de "debate". Naquele mesmo dia, meia-hora antes pude ver um programa que busca do entrevistado o inesperado, o contraditório, o mal-estar em relação ao assunto levantado. Por isso quinta-feira que vem na moral, provocações é bem melhor!
 Na moral, vá ver provocações!
Nota
[1] http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/07/11/sobre-a-nao-participacao-no-programa-na-moral-da-rede-globo/

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