terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Congresso uruguaio aprova Lei de Meios


Do blog de Renata Mielli

Depois de um ano e meio de discussões, nesta segunda-feira, (22/12) a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual. Com o voto dos representantes da Frente Ampla, a lei será regulamentada pelo governo do presidente Tabaré Vázquez.
A nova lei prevê, entre vários outros pontos, a proibição do monopólio na radiodifusão, definindo que cada empresa pode ter, no máximo, seis concessões para prestar serviços de televisão. No caso de empresas que possuam concessões na cidade de Montevideo, este número se reduz para três. O intuito da Lei é evitar a concentração econômica e, também, permitir mais pluralidade e diversidade, para fortalecer a democracia no país.
Sobre o monopólio e as ameaças estrangeiras de controlar a radiodifusão no Uruguai, o presidente Pepe Mujica declarou na última semana "A pior ameaça que podemos ter é a vinda de alguém de fora, ou por baixo, ou por cima, e termine se apropriando... Para ser mais claro: eu não quero o Clarín ou a Globo sejam donas das comunicações no Uruguai".
A oposição, que representa os interesses dos conglomerados de radiodifusão, adotam o discurso dos atuais proprietários das concessões atacando a nova lei. O argumento é o mesmo utilizado em outros países: o de que a regulação é uma afronta a liberdade de expressão. O debate, realizado no parlamento Uruguaio foi tenso.
O deputado Carlos Varela defendeu a regulação e afirmou que com a nova lei, haverá transparência e participação social na discussão das concessões. "Neste se outorgavam meio de comunicação sem transparência, se convocavam jornalistas paa questionar as notícias”, afirmou Varela referindo-se à prática corrente promovida pela direita uruguaia. E durante os debates realizados durante a sessão que aprovou a lei lembrou que todas as convenções internacionais de direitos humanos colocam a regulação da comunicação como um dos indicadores de democracia nos países. E disse: “o controle remoto por si só não da liberdade se do outro lado não houver pluralidade”
Outros pontos que estão previstos na lei são a limitação de publicidade, definição da faixa horária diária entre 6 e 22 horas para a proteção da infância e adolescência, cota de 60% de conteúdo nacional a ser veiculado por todas as emissoras, cria um Conselho de Comunicação Audiovisual e um sistema de meios públicos para garantir a pluralidade.
Um aspecto que suscitou muita polêmica foi a criação do horário eleitoral gratuito, inexistente no Uruguai. Para veicular propaganda no rádio e na TV é preciso comprar o horário comercial. Isso, de acordo com os deputados da Frente Ampla é uma distorção, já que os partidos que não possuem recursos não têm como levar suas mensagens para a população.

Leia também: entrevista com Gabriel Mazzarovich, membro da Frente pela Democratização da Comunicação no Uruguai.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ZH colhe o lixo que plantou em post sobre Jean Wyllys

Em um belo dia, durante uma olhadela no face encontro uma postagem da Zero Hora (porque é bom saber o que a grande mídia aqui está noticiando...) com uma boa notícia: a de que Jean Wyllys apresentará "Cinema em Outras Cores" no Canal Brasil. Neste novo programa na grade do canal o deputado vai abordar especificamente filmes que abordam o mundo LGBT. Quem tiver coragem de ler a virulência dos comentários e comparar com a simplicidade da notícia vai entender a dimensão e a necessidade de um programa voltado para esse público. Calculando por cima cerca de 90% dos comentários usavam a palavra "lixo" para descrever o apresentador, pois alegam que o problema é ele enquanto político e não sua orientação sexual. Ora, sua principal bandeira é defender os LGBTs e seu programa é sobre o mesmo assunto, mas o problema não é o fato de ser e defender os gays, em um programa de um canal pouco assistido? Conseguem mesmo fazer essa mágica separação entre o ocupante de um cargo político e sua bandeira política? E ainda usando uma palavra tão pobre como "lixo". Lixo é o pensamento pobre do leitor da Zero Hora, do qual ela é cúmplice!
Adaptando a frase de Pulitzer, Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão lixo como ela mesma.
Todo sucesso ao programa de Jean Wyllys!!!

domingo, 9 de novembro de 2014

Imagens da 60ª Feira COM Livros de POA

do Blog epocavital
Hoje a maioria dos melhores espaços “estratégicos” na Praça da Alfândega estão tomados por estandes institucionais de alto luxo, chiquérrimas pagos com dinheiro público tirando os espaços que "seriam" das estantes tradicionais deste espaço, …Empresas de Mídia privadas e Públicas, Executivos e Legislativos Municipais, Estaduais, Federais, Judiciário, Ministério público Estadual e federal,… NB; esta “mistura” de Entidades e Instâncias que Não São Pertinentes ao Evento está desqualificando nossa feira do livro que este ano completa 60 anos.

P.S. do Davenir: infelizmente isso não é de hoje, mas este ano a organização se puxou na propaganda indesejada. Propagandas estas que nem sequer divertem ou são minimamente interessantes. Com muito esforço podemos considerar aquele estande do Zaffari com o quarteto de cordas que toca as mesmas músicas clássicas de suas peças publicitárias como se fossem suas. Já não é mais uma feira do livro, mas uma feira com livros. As imagens abaixo dão uma dimensão deste estrago publicitário.












 







Fotos 07 de Novembro de 2014. (Autoria; eduino de mattos)
Eduíno de Mattos
Fonte: epocavital

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Marco regulatório: a gota d’água

Conhecidos os resultados eleitorais, espera-se que, no seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff enfrente a questão inadiável de um marco regulatório democrático para o setor de comunicações ou “da regulação econômica do setor” como ela mesma tem dito.
O grand finale do processo de construção de uma “linguagem do ódio” e da partidarização da cobertura jornalística – que vinha progressivamente se radicalizando ao longo de toda a campanha – confirmou os graves riscos para o processo eleitoral e, sobretudo, para a própria democracia, de um mercado oligopolizado que favorece a ação desmesurada e articulada de grupos privados de mídia na defesa de interesses inconfessáveis.
Refiro-me, por óbvio, à edição 2397 da revista Veja, do Grupo Abril, à sua circulação antecipada, à sua planejada repercussão em outros meios de comunicação e à sua utilização (capa reproduzida e distribuída como panfleto) no esforço derradeiro de cabos eleitorais do candidato Aécio Neves.
Liberdade de expressão?
A edição 2397, que não foge ao padrão rotineiro praticado pela Veja, abandona princípios elementares do que possa ser chamado de jornalismo, nos termos definidos historicamente pela própria indústria de comunicações.
Um bom exemplo poderia ser “a teoria da responsabilidade social da imprensa”, consagrada pela Hutchins Commission (Estados Unidos, 1947): “Propiciar relatos fiéis e exatos, separando notícias (reportagens objetivas) das opiniões (que deveriam ser restritas às páginas de opinião) e servir como fórum para intercâmbio de comentários e críticas, dando espaço para que pontos de vista contrários sejam publicados” (ver aqui).
Aparentemente Veja não se preocupa mais com sua credibilidade como produtora de notícias e cultiva de forma calculada um tipo de leitor cujas opiniões ela expressa e confirma. De qualquer maneira, em momentos críticos de um processo eleitoral seu poder de fazer circular “informações” no espaço público é inquestionavelmente ampliado por sua cumplicidade de interesses com outros oligopólios da grande mídia.
Acrescente-se que Veja sempre se ampara legalmente em artimanhas jurídicas de profissionais da advocacia e, muitas vezes, em decisões do próprio Poder Judiciário que tudo permite em nome da liberdade de expressão equacionada, sem mais, com a liberdade da imprensa.
Não foi o que aconteceu dessa vez.
A resposta do TSE
Ações judiciais impetradas pelo PT no TSE tentando diminuir as consequências daquilo que a candidata/presidente Dilma chamou de “terrorismo eleitoral” foram objeto de decisões imediatas e impediram que as consequências fossem ainda mais danosas – embora não houvesse mais tempo para “apagar” insinuações e denúncias publicadas sem qualquer comprovação às vésperas das eleições.
As decisões do TSE, claro, foram rotuladas de “censura” pelo Grupo Abril e unanimemente pelas entidades que representam os oligopólios de mídia – ANJ, Abert e Aner – assim como pelo candidato Aécio Neves, diretamente beneficiado.
De qualquer maneira, a reação pública imediata da candidata/presidente Dilma no horário gratuito de propaganda eleitoral e as decisões do TSE reacendem a esperança de que a regulação democrática do setor de comunicações receba a prioridade que merece no próximo governo.
Talvez a edição 2397 de Veja tenha involuntariamente sido a esperada gota d’água que faltava para que finalmente se regulamente e se cumpram as normas da Constituição de 1988 relativas à comunicação social – que, aliás, aguardam por isso há mais de um quarto de século.
Em especial, urge ser regulamentado e cumprido o parágrafo 5º do artigo 220 que reza: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.
A ver.
Venício A. Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim de Em defesa de uma opinião pública democrática – conceitos, entraves e desafios (Paulus, 2014), entre outros livros.
Tirado do Viomundo

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Enquanto a Escola Porto Alegre é fechada Zero Hora se preocupa com custo de placa para a Av. Legalidade

A falência do jornalismo não é visível apenas nas grandes cartadas panfletárias como a da Revista Veja as portas das eleições. Notícias aparentemente inocentes e triviais buscam os mesmos efeitos. A condução de opinião e a ocultação de coisas desagradáveis em relação aos seus interesses. Muito destaque tem sido dado aos resultados das recentes eleições onde a política é discutida no seu âmbito nacional, e em menor escala estadual. Enquanto isso a política municipal fica numa posição bem confortável e o jornalismo rasteiro da Zero Hora cumpre seu papel. 
Sua inconformidade com a troca do nome da Av. Castelo branco para Legalidade se traduz na noticia publicada hoje em seu portal, onde lemos: "Novas placas da Avenida da Legalidade custarão R$ 2,3 mil". A notícia enfatiza apenas o lado negativo da troca de nome. Uma descrição seca dos nomes envolvidos na troca de nome, esvazia a necessidade de de valorizar a democracia em contraponto a ditadura que o Brasil viveu entre 1964-89. Toda esta dificuldade e resistência da direita e de sua mídia, inclusive após a decisão da câmara municipal, mostra o quanto esta democracia precisa ser valorizada e ao mesmo tempo conquistada e ampliada. 
A notícia da ZH mostra em que posição ela está neste processo. Nos comentários do Facebook os leitores espumantes reclamam que este dinheiro poderia ir para a áreas como a Educação, porém não vamos encontrar esta indignação dos leitores em relação ao fechamento arbitrário fechamento da Escola Porto Alegre pela prefeitura municipal de Fortunati, porque a Zero Hora não se deu o trabalho de cobrir.
Nota: Qualquer noticia da ZH linkadas neste blog estão encurtadas através do naofo.de

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A Veja é um panfleto!

Até hoje sempre havia me referido a Revista Veja como um panfleto, porém era apenas uma força de expressão devido a sua postura de pautar e polemizar a corrupção sem base material na realidade em benefício eleitoreiros de candidatos de direita e também alimentando um antipetismo descontrolado e inconsequente. Chamava a Revista Veja de panfleto pois seus textos são tão diretamente políticos quanto os panfletos de antes do inicio do Século XX. Antes do jornalismo ter se embebido pela lógica da mercadoria e vender a notícia como tal. Essa é a diferença entre o jornalismo atual e o do século anterior aos anos 20-30.
Revista Veja é um panfleto
A Revista Veja retornou mais um Século e voltou a fazer panfletos exclusivamente políticos, notadamente partidários e eleitoreiros. Se retornarmos a capas antigas da revista em vésperas de eleições veremos que tal estratégia não é nova. Mas é a primeira vez  que vejo a revista abandonar por completo sua função jornalistica e encarnar objetivamente a função de panfleto de partido.
Mais problemático não é posicionar-se politicamente, mas é distribuir uma capa de revista como panfleto político, sem assumir-se como tal, abandonando os próprios princípios jornalísticos que defende como a "imparcialidade" e a "objetividade", sem sequer utilizar a saída comum de "buscar chegar o mais perto possível". Dessa forma nem se abre espaço para questionar esses princípios que guiam as práticas jornalísticas atuais pois a própria publicação atenta violentamente contra esses princípios.
Espero que a revista (seus donos e responsáveis pelo panfleto) pague na justiça pela manobra, porém emito meu palpite de que o caso não tem potencialidade para comover e mobilizar a sociedade contra esta atitude da imprensa de forma ampla como na Inglaterra ocorreu com os tabloides. Naquele país os exageros da imprensa chegaram a um cúmulo quando um tabloide de Murdoch invadiu a caixa de correio de uma menina sequestrada e morta. Lá o caso mobilizou a população que culminou em uma regulação da imprensa no pais. 
Enquanto a atitude da presidente Dilma de acionar a justiça é válida, mas insuficiente se não for acompanhada de uma política de mídia que pare de alimentar sua própria destruição e dependendo do resultado de amanhã poderá ser tarde demais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Luciana, Rafinha e a Democratização da Mídia

Ontem (23/09/2014) a candidata Luciana Genro foi entrevistada por Rafinha Bastos em seu Agora é Tarde (quem não viu olha ai). A primeira coisa a ressaltar é a qualidade da entrevista, principalmente em comparação a entrevista feita por Danillo Gentili a mesma candidata (quem quiser comparar entra ai), pois deixar o entrevistado falar é o mínimo que se espera de uma entrevista.
Os pontos fortes da fala da candidata foram a argumentação sobre o tema do aborto e da maconha. São temas difíceis e indigestos de pautar e Luciana cumpriu seu papel ao se posicionar. Outro assunto que chamou a atenção foi as experiências socialistas, obviamente a candidata passou pela sabatina de ter de responder sobre o que deu de errado nelas de uma forma geral. Sua escolha política de se desassociar delas é discutível, porém há de se considerar que é um debate improdutivo para os ouvidos não aclimatados as disputas dentro da esquerda. Contudo acredito que se ela desejava desvencilhar o "Socialismo" de "Autoritarismo", trazer o Chile de Allende e a posterior ditadura de Pinochet ao debate seria uma bola dentro. (admito que fiquei falando alto para a TV para ver se ela ouvia)
Melhores comentários de Luciana na entrevista
O tema da "Liberdade de imprensa" foi que arrematou a entrevista e a meu ver o mais importante e delicado pois existe uma aura de não se discutir a mídia na mídia, como se fosse falta de educação falar mal da casa de alguém enquanto está sentado em seu sofá. Este respeito, é um respeito no sentido burguês de autoridade, que não interessa para quem deve questionar o status quo. Infelizmente foi onde a candidata encontrou mais dificuldades de articular argumentos para desmistificar a ideia de "Liberdade" para a imprensa burguesa. O entrevistador, apesar de menos pior que Gentilli é defensor da liberdade sem limites para os meios de comunicação e como tal insiste em rotular qualquer regulamentação estatal para o meio como um ataque direto a "Liberdade de expressão". Para apoiar sua posição rafinha defendeu a emissora venezuelana que foi estatizada por Chavez, mesmo esta articulando um golpe de Estado contra este. Luciana buscou contra argumentar dentro da situação venezuelana mencionado que uma imprensa golpista é antidemocrática, contudo a realidade venezuelana é demasiado moldada pelo jornais tradicionais no Brasil como um governo ditatorial, para que o expectador desavisado pudesse estabelecer esta relação. A salva de aplausos combinada ao término da frase final de Rafinha querendo concluir que uma rede de TV pode ser a favor de um golpe de Estado infelizmente ficou sem uma boa resposta. Um exemplo que poderia ter sido evocado é a própria imprensa do Brasil pré-1964, para demonstrar como esta é anti-democrática em sua essência (novamente estava lá eu tentando uma telepatia com Luciana).
O saldo da entrevista foi positivo, tanto para a entrevistada como para o entrevistador, gosto de imaginar que, apesar de em geral não agradar as esquerdas, pode ter sido um interessante primeiro contato com as ideias de esquerda.
Ao fim de tudo é importante não tomar estes breves comentários como um julgamento pessoal de Luciana. Ela é um quadro político, parte da política de seu próprio partido, que por sua vez não é o único dentre os partidos de esquerda a deixar o debate da Democratização da Mídia em segundo plano. 

domingo, 21 de setembro de 2014

Crime organizado ou água de coco? Para o Fantástico tanto faz!

A reportagem do Fantástico (de 21/09/2014) sobre a desocupação de um prédio em São Paulo aponta uma posição contra os sem-teto. Ao assistir a reportagem podemos destacar os seguintes pontos. O destaque ao drama do policial que tem que cumprir o mandato policial. Isso foi emocionalmente potencializado pela imagem do garoto abraçando o policial. O uso do depoimento do garoto não foi apenas foi vergonhoso, mas foi desonesto porque foi mais extenso que o depoimento dos membros da ocupação. É aqui que me refiro quando a notícia quando reduzida o singular tende ao conservadorismo. A situação do grupo social dos sem-teto foi reduzida aos comentários de Raquel Rolnik maldosamente editados em que ela pondera a possibilidade de haver crime organizado na ocupação. Em seguida mostra como os ocupantes estavam preparados para a defesa, com cocos verdes!
Imagem do arsenal usado pelo potencial "crime organizado" dos ocupantes do prédio
As ausências de uma reportagem falam tanto quanto seu conteúdo. Como não haviam armas de fogo entre os ocupantes do prédio, o que torna a mera ponderação de crime organizado nesta ocupação extremamente desonesta. Porém a ausência que mais preocupa é a nenhuma menção ao ricaço dono do investimento falido.
Quem têm casa e TV fininha de Led, vai pensar que os moradores fazem parte do crime organizado. Ainda mais se não puder ver a ocupação do ponto de vista dos próprios moradores.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

ZH não sabe contar!

Definitivamente a ZH não sabe contar. Em seu noticiário sobre o protesto dos estudantes da FAPA. eles noticiaram "um grupo de cerca de 30 estudantes".
Em sua nota, os jornalistas da ZH não se deram o trabalho de fotografar os estudantes. Ainda bem que eles possuem máquinas de fotografar.
Porém o jornalismo da ZH mostrou bastante preocupação com o fluxo de carros de uma das avenidas menos movimentadas naquele horário. Se você não tem carro, como eu, ou se preocupa com algo a mais a não ser que horas vai chegar em casa pra ver novela, saiba mais sobre o que os manifestantes reivindicam aqui.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Olha no que dá lutar contra o racismo!

Estamos vendo o processo se confirmar. O processo de desdobramento da noticia conforme já havia dito antes (ver texto no link), de singularizar a coisa toda numa pessoa só. Agora vem o refluxo, a reação contra o que seria uma nova injustiça (demissão, "perseguição") a primeira (o próprio ato racista) cometida pelo combate ao racismo.
A mídia segue sua receita. Enquanto ela é sabatinada sozinha. As estruturas obtusas em relação ao racismo (Clubes, CBF, Globo, Band, etc.) saem pelos fundos e a menina superexposta prepara-se para receber sua redenção pela dosagem "elevada" de revolta.
A cada nova noticia confirma-se esse processo.
A mensagem em comum de todas essas noticias é: "Olha no que dá lutar contra o racismo!". Favor não caia nessa..


Vamos combinar, em suas declarações chorosas a garota pede desculpas várias vezes a torcida do Grêmio e uma vez ao goleiro que ela ofendeu. Difícil acreditar que ela aprendeu outra coisa além de ficar de boca calada no estádio. 

domingo, 31 de agosto de 2014

O racismo no singular da notícia

Na internet muito já se xingou Patrícia Moreira, pela atitude indefensável de chamar o goleiro Aranha de macaco. Até o momento este foi o maior desdobramento de sua atitude racista. Como procuro fazer neste blog, quero trazer algum aspecto sempre relacionando a mídia e sua influência em certas questões. Neste caso de racismo, o que aponto primeiramente é a resposta de uma população que muitas vezes reproduz o racismo cotidianamente e ao mesmo tempo execrou a menina pela atitude racista. Arrisco uma explicação no fato de que no Brasil não se entende claramente o que é racismo, preconceito e discriminação.
O racismo predominante em nosso país não permite que se chame um negro de macaco abertamente em rede nacional, como Patricia fez, porém permite modos mais silenciosos de racismo, que tem se perpetuado de forma mais eficiente que, por exemplo nos EUA. Ironicamente o que a garota fez, era para estar encoberta pela multidão de sua torcida, onde outros torcedores também faziam o mesmo que ela. Mas sua atitude foi capturada pela transmissão e virou noticia.
Ao transformar-se em noticia (Torcedora chama goleiro de macaco em jogo da Copa do Brasil) a questão foi reduzida a sua excepcionalidade, (O racismo aberto), e também como desdobramento de outra noticia, (O jogo Grêmio e Santos pela Copa do Brasil), que juntos potencializam a atenção que a noticia pode receber.
O que pretendo salientar neste breve comentário é sobre os desdobramentos que alimentam o conservadorismo da sociedade ao singularizar ao extremo o acontecido, como tem sido tratado nos meios de comunicação. Explico. Patricia está sendo isolada pela mídia das instituições que sempre se mostraram conservadoras e obtusas em relação ao racismo. Ao reduzir a notícia ao evento isolado, turva-se a situação para preservar os clubes de futebol, a CBF, e as próprias emissoras de Rádio e TV. A partir daí pauta das noticias tende a não ser mais o racismo, mas a demissão do local onde ela trabalhou, as repercussões negativas em sua vida. etc.
O que devemos esperar de uma noticia que ressalte o combate ao racismo? Não é defendido que uma noticia de jornal deva conter uma aula de história ou de sociologia no anexo, mas que em seu conteúdo não se furte de fazer apontamentos que ao menos reconheçam esses conhecimentos ao invés de entregá-los ao senso comum.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Jornalismo corporativo demoniza Democratização da Mídia em Debate na Band.

Para quem deseja Liberdade de Empresa, o termo Democratização da Mídia sai amargo da boca.
No debate ocorrido na Bandeirantes, dia 26/08 (Terça-feira) teve além do palanque dos candidatos um palanque extra com quatro componentes. Eram todos eles jornalistas da emissora que promoveram uma intensa defesa de seus interesses através da formulação de perguntas para os candidatos.
Não vou analisar exaustivamente cada pergunta, mas uma amostragem de uma no mostra um dos momento sem que o discurso político ficou mais latente. Boris Casoy em defesa da própria casa, pauta da Democratização da Mídia de forma vergonhosa. Começou, trazendo sua opinião a frente da pergunta, definindo como "tentativa de censura a liberdade de expressão" a Democratização da Mídia, anunciando a pauta com desprezo antes de interpelar o candidato Eduardo Jorge do PV, com comentários da presidente Dilma.
A resposta de Eduardo foi concordar com Dilma, usando poucos segundos dos seus dois minutos. Esta por sua vez diz que a mídia é "um valor básico da democracia", que defendeu um controle econômico dos meios de comunicação e em seguida abrangeu a questão para além das concessões de Rádio e TV, tirando o foco que é o que realmente interessava saber.
A janela para este tipo de debate, na própria TV aberta, domínio dos latifúndios midiáticos, é mínima, mesmo no espaço aberto pelas eleições. E neste debate, ou na sua falta, vemos uma contradição fundamental no jornalismo corporativo.De um lado tempos a visão dos grandes meios de comunicação de que o jornalismo é defensor do interesse público e se prostra como mais um prestador de serviço, entre eles o debate de candidatos, ou seja, é imparcial e do outro lado vemos um debate organizado com uma bancada montada para os jornalistas da casa que foi um verdadeiro palanque onde âncoras opinadores  realizaram seu discurso político. Definitivamente as rodadas com jornalistas fazendo perguntas escancarou o espaço para forçarem o debate para onde a bandeirantes desejava, pressionando seus candidatos indigestos e aliviando para outros.
Como defender o interesse público, dentro de um veículo privado, submetido a lógica do lucro? Para quem deseja Liberdade de Empresa, o termo Democratização da Mídia sai amargo da boca.

sábado, 19 de julho de 2014

Um início de tarde relaxante na Globo....

...ai você assiste o Jornal Hoje.
Você descobre que as lojas estão em promoção e vou poder comprar aquele casaquinho, depois pega uma dicas de como fazer uma adega, porque o inverno está chegando. Mas antes que eu possa pensar onde poderia estar usando um casaco novo.
Surge uma reportagem curtíssima para dizer que morreram tantos em Gaza, "durante" um ataque de Israel. Como já não é novidade, não precisamos ouvir depoimentos de ninguém. Dois minutos depois aparece uma reportagem sobre a troca da Guarda Inglesa, este sim com bastante depoimentos de pessoas que celebram essa tradição inglesa. Que povo que recebe bem os visitantes, não é a toa que são recebidos com igual dignidade quando viajam para ver seus súditos.
Ah essas tradições inglesas.
Agora que o jornal acabou é hora de ver Estrelas pensando numa viagem para Inglaterra e não de pensar em Gaza! 

 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Na moral, provocações é muito melhor.

Davenir Viganon
O programa Na Moral, veio com uma proposta de ser um programa de debates na Rede Globo. O resultado é um programa não consegue (se é que tenta) romper com a lógica anti-debate da emissora. E o último programa, na última quarta-feira (dia 10) é um exemplo disso.
A pauta foi o Racismo nas Telenovelas, e contou com a presença de Joel Zito, que dirigiu o maravilhoso documentário A Negação do Brasil, das atrizes Thaís Araújo, Zezé Motta, do cantor Tiaginho e do diretor Daniel Filho.
Documentário "A Negação do Brasil"
O debate usou a argumentação básica do documentário que evidencia o pouco espaço dado a atores negros nas telenovelas. Foi argumentado brevemente no programa, que ao longo do tempo os negros foram ganhando espaço paulatinamente.
Até ai as argumentações foram bem parecidas com o filme, porém o debate tomou um rumo diferente do documentário. Na película, fica patente que muito pouco se avançou na reapresentação do negro na teledramaturgia e que muitos estereótipos ainda se mantém, como o da Mammy. No programa foi uma comemoração ao que se avançou em relação ao fim do documentário, como por exemplo, a primeira novela com uma personagem principal negra, "A Cor do Pecado", que tinha no papel principal Thaís Araújo, presente no programa. Também houve elogios a novela "Lado a Lado", que concordo que tem seu valor. Ao mesmo tempo que se reconhecia o racismo, os casos de preconceitos nas telenovelas foram sempre referentes como coisa do passado. Será que alguém comentou das Mammys da novela que havia passado na mesma noite? Será que alguém comentou o lugar que Manuel Carlos sempre reservou aos negros em suas novelas?
Podem até ter comentado, mas a Rede Globo dispõe de duas táticas para evitar que esse tipo de questionamento apareça.
Programa "Na Moral" do dia 10/07/2014 
A primeira e mais óbvia é a edição do programa. Pode parecer óbvio, mas partes do debate podem ser simplesmente cortadas. Neste programa foi mais escandaloso, pois foi um bloco inteiro removido. Onde seria debatido o programa de cotas no Brasil. Na verdade foi debatido, mas não foi exibido[1]. Outra tática é encher o palco de situações que podem desvia a atenção e são costumeira mente usadas para cortar uma fala que vá contra a emissora. Isso é muito usado em programas exibidos Ao Vivo, e geralmente a atração musical cumpre essa função.
Assim poupou-se o novelista da casa, Manoel Carlos, de criticas e elogiou-se os Estados Unidos, pois segundo o que foi "debatido" no programa os negros "lá" tem maior poder de compra e que estão muito "à frente" que nós. Faltou alguém para dizer as diferenças do racismo lá e aqui.
O grande alento, foi poder ouvir Joel Zito, conceituar o Branqueamento Estético a qual são vítimas os negros no Brasil e espero que isto não tenha se perdido nas brumas da edição.
Mas o que mais entristece não é o debate ralinho da Globo, pois a este já não surpreende, mas é ver um programa como o Provocações apresentado por Antonio Abujamra ser tão pouco conhecido do grande público. Chamo a atenção deste, pois Antonio privilegia justamente o que a Globo procura capar em seus programas de "debate". Naquele mesmo dia, meia-hora antes pude ver um programa que busca do entrevistado o inesperado, o contraditório, o mal-estar em relação ao assunto levantado. Por isso quinta-feira que vem na moral, provocações é bem melhor!
 Na moral, vá ver provocações!
Nota
[1] http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/07/11/sobre-a-nao-participacao-no-programa-na-moral-da-rede-globo/

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O drama da classe-média nas manifestações

Análise de Vinícius Siqueira retirada do Blog Colunas Tortas

O portal G1 publicou um vídeo em que pai e filho discutem durante a manifestação contra a copa, ocorrida nesta quinta-feira (12) nos arredores da Arena Corinthians. A gravação mostra um garoto de 16 anos brigando pelo direito de se manifestar e um pai reivindicando sua posse do filho. O vídeo abaixo não conta com a fala da jornalista Leilane Neubarth, mas ela pode ser vista neste link, direto do site da Globo.
“Você é meu filho, você não foi criado pra isso”, diz o pai, que recebe um “tanta gente morrendo, eu quero o meu direito, deixa eu ir atrás do meu direito!” em resposta. O pai também avisa o filho que, caso ele queira protestar, ele primeiramente precisa arranjar um emprego, e complementa com “você tem educação, eu te pago escola!”
O filho, por sua vez, repete incessantemente a necessidade de exercer seu direito de protestar pela construção de escolas, hospitais e contra todo o “povo manipulado”. Em meio a tudo isso, a apresentadora Leilane Neubarth contextualiza precariamente a situação. Segundo ela, “o bonito neste caso, é que os dois argumentam e cada tenta convencer com o seu argumento, exclusivamente na argumentação, sem violência [...] depois destes momentos, o pai conseguiu convencer o filho a ir pra casa”.
Pai vs Filho
Este é o drama da classe-média pois, ao mesmo tempo, ela vaia Dilma, exige que a corrupção seja abolida, exige mais hospitais e mais educação, mas não se arrisca indo para as ruas. O pai, como esperado, exalta os valores do trabalho e da obediência, enquanto o filho, como também esperado, não consegue ir além da superfície do discurso político.
O filho de 16 anos ainda não consegue articular corretamente o discurso político e o pai consegue usar a autoridade que lhe é concedida pela sociedade sem maiores problemas. O resultado disso é a aprovação que ele tem nos comentários espalhados pelo facebook.
O drama da classe-média, portanto, é ser contra algo e não poder protestar, para não ser “baderneiro”. A classe-média protesta de roupa branca, protesta no facebook, protesta na cabine eleitoral e na arquibancada VIP do estádio. Seus filhos, movidos pelo impulso à desordem típico da juventude, são castrados sistematicamente para entrarem na lógica da obediência ressentida, representada tão claramente pelo pai.
A apresentadora
No entanto, a apresentadora é a pessoa mais nociva de todo esse vídeo. Leilane faz parecer que este drama é algo universal, faz parecer que este é um drama comum e que ele se desenvolveu e foi resolvido de maneira democrática. Pela fala final da jornalista, podemos ser levados a pensar que tudo isso se passou numa Ágora grega, num espaço público de debate onde a democracia era exercida por aqueles que podiam e tinham a capacidade de discursar.
Tudo se passa como se pai e filho estivessem se relacionando horizontalmente e “sem violência”, como a própria apresentadora diz. Entretanto, pai e filho nunca estarão se envolvendo de igual para igual. É óbvio que a relação é desigual e é óbvio que o pai sempre terá mais legitimidade que o filho. Evidentemente o pai não tem argumentação nenhuma (e nem o filho), mas ele é elogiado nas redes sociais, não por ter razão, mas por ser pai e exercer sua autoridade de pai contra a suposta imaturidade do filho.
A violência acontece quando o pai pega o filho pelo braço e o joga contra o carro, quando retira a máscara de seu rosto e quando o obriga a entrar no carro. Não há discussão, há repressão – repressão que um pai é autorizado a exercer sobre seu filho. Ao contrário do que foi dito por Leilane, o pai não convenceu o filho a ir pra casa, o pai o obrigou, exercendo o poder que lhe é garantido socialmente.
É interessante para a grande mídia apresentar situações como essa, claramente desiguais, como exemplos de democracia, pois nessas situações, o lado minoritário sempre perde. Quando elas são apresentadas como situações democráticas, pode-se dizer que o lado minoritário perdeu não por uma questão de poder, mas por uma questão de racionalidade. Perdeu porque não tinha razão. O que é mentira! A razão sempre está na mão de quem pode exercer mais poder.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Uma contribuição sobre o conceito de Mídia Livre

Esse texto foi extraído da intervenção de Renato Rovai, em 2009, na mesa "para ampliar o Midialivrismo" no Fórum Mundial de Mídia Livre no antigo NPI da UFPA em Belém do Pará.

Nós somos blogueiros, revisteiros, documentaristas, fotógrafos, ilustradores, jornalistas, radiocomunicadores, professores que não têm a mídia comercial como referência do seu trabalho… Somos ativistas da luta pela democratização das comunicações. Somos muitos. Estamos hoje produzindo boa parte das informações que constroem a reflexão do movimento popular mundo afora. Somos muitos e por isso já incomodamos demais.
Não somos mais nós que nos preocupamos com os conglomerados comerciais de comunicação. São eles que hoje querem nos impedir de existir. São eles que se preocupam com nossas ações, com as nossas construções. São eles que dizem que nossas rádios derrubam aviões. São eles que fazem campanhas publicitárias para ridicularizar nossos blogues.
Lembram-se da campanha do Estadão. Aquela que tinha um macaco chamado Bruno que ficava inventando histórias no seu blogue.
Vai ver que eles nos acham macacos, porque somos divertidos. E porque não usamos ternos e gravata. E não precisamos ficar fazendo cara de sérios para transmitir informação e fazer reflexões. Talvez nos achem macacos porque damos uma banana para a lógica de que o mercado é um deus. E porque defendemos a liberdade.
Somos macacos, porque, por exemplo, não tiraríamos um vídeo do youtube “por violação dos termos de uso”.
Fui ao Youtube buscar essa campanha do Estadão contra os blogueiros. E eles proibiram o vídeo de circular. Está lá: “proibido por violação dos termos de uso”. Eles proíbem a circulação da informação, de uma campanha publicitária criada por eles, vejam bem, por violação dos termos de uso.
Falando em Estadão. Eles nos acusam de receber dinheiro do Estado. Vivem dizendo que os nossos veículos não existiriam não fosse a publicidade oficial. Só que nenhum veículo comercial conseguiria viver um ano sem contar com os recursos publicitários e subsídios desse mesmo Estado. Estou dizendo um ano, mas posso até apostar com a Globo e com a Abril se elas topam, ficar um mês sem recursos do Estado. Nós, da Revista Fórum, estamos cansados de ficar meses sem um real de publicidade oficial. Um mês, Marinhos. Um mês, seu Civita.
Agora mesmo, no dia 23, o presidente da França, o marido da Carla Bruni, anunciou um pacote de 600 milhões de euros para a imprensa escrita francesa. Imaginem se o Chávez ou o Lula decidissem investir 6 milhões de Euros, 100 vezes menos, na ampliação da mídia livre. Alguém aí ainda acha que eles são contra o Estado? De jeito nenhum. Eles vivem sugando do Estado, abusando do Estado, se locupletando do Estado. O que eles querem é nos constranger e nos impedir de ter acesso ao Estado.
Para ampliar o midialivrismo, precisamos e devemos ter apoio do Estado. E não devemos tratar essa questão nem com pruridos nem a partir da mesma lógica assaltante dos conglomerados comerciais. Precisamos pensar em novos modelos de financiamento. Vamos ter uma mesa neste FSM onde será lançado o edital de criação dos Pontos de Mídia Livre e dos Laboratórios de Mídia Livre. Trata-se de um novo modelo de financiamento de veículos de informação que terá o apoio do Ministério da Cultura. Poderão se inscrever organizações e pessoas físicas. E os veículos serão julgados por uma comissão que vai avaliar o interesse público daquele produto. Isso muda a lógica da repartição dos recursos. É uma construção inspirada nos Pontos de Cultura, que a partir de agora também poderão se reivindicar Pontos de Mídia Livre. É algo novo e que precisa ser discutido por todos nós para que possa vir a ser, inclusive, melhorado e ampliado.
Por que não se pode repetir essa construção em governos de estados e prefeituras. Aliás, a prefeitura de Vitória já está estudando o assunto. Fica o desafio para que o governo do Pará faça o mesmo. E, quiça, esse possa vir a ser um dos legados que este FMML deixe à luta pela democratização da mídia no Pará.
Bem, mas o que é esse nosso movimento? No que ele se diferencia do que a gente chamava de mídia alternativa
Considero que este nosso movimento foi semeado em 1989, quando foi criada a WWW. (a rede na internet) . Também foi o ano quando caiu o muro de Berlim. E acabou a guerra fria que dividia nossas opções políticas em a favor ou contra um dos dois blocos que dividiam o mundo. Do ponto de visita simbólico e do ponto de vista geopolítico real, acabava a sociedade dos contrates. Iniciava-se o ciclo do plural, da multipolaridade. Há muito o que se discutir em relação a isso, mas o que vivemos hoje tem relação com esses dois acontecimentos históricos.
Podemos dizer, de forma até ilustrativa, que a geração que está construindo o que a gente chama de movimento mídia livre hoje é filha de 1989. Desses dois acontecimentos históricos. Como a geração que fez a mídia alternativa foi filha do que aconteceu 1968. E que acabou acontecendo também em 69, 70, 71…
A história da imprensa alternativa no Brasil foi intimamente ligada ao período da ditadura militar. O professor Bernardo Kucinski, que vai estar na próxima mesa, afirma em seu livro “Jornalistas e Revolucionários” que entre 1964 e 1980 nasceram (e morreram) aproximadamente 150 periódicos que faziam oposição ao regime autoritário brasileiro.
Eram todos de papel. E quase todos panfletários. Principalmente os que se reivindicavam políticos. Porque alguns daqueles veículos também não eram só políticos. E se inspiravam no movimento da contracultura francesa e estadunidense. Um deles, o Pasquim, foi um sucesso editorial. Até hoje nenhum produto de papel fora da mídia tradicional vendeu tanto quanto o Pasquim, que chegou a tiragens semanais de 100 mil exemplares.
Mas, mesmo o Pasquim era caracterizado pela luta contra a ditadura. Pode-se dizer, sendo assim, que a imprensa alternativa no Brasil foi feita de papel (com jornalismo impresso) e que existiu para combater a ditadura militar. Por isso, depois que a ditadura acabou, os jornais alternativos também foram acabando. Ainda hoje há veículos que se reivindicam alternativos, por conta de sua linha editorial diferenciada. Mas eles não representam mais o movimento que os inspira.
A mídia livre é outra coisa. E tem outras abas, como se diz no mundo virtual. Pode-se até dizer que ela tem inspiração jornalística na imprensa alternativa, mas suas demandas e construções são de outra ordem. Bem mais diversas, bem mais plurais.
Então o que caracteriza o nosso movimento e o que nos torna midialivristas.
O movimento de mídia livre não é apenas uma construção de jornalistas e/ou militantes políticos de esquerda. Ele é muito mais amplo. Quando se definiu pelo nome Mídia Livre uma das intenções era exatamente a de se associar a luta dos softwares livres e das rádios livres. Mas também a de demonstrar que a construção do movimento tinha por princípio a liberdade como valor.
A luta contra os monopólios corporativos, contra a censura da informação, contra o bloqueio do acesso ao conhecimento.
E que buscava ser não uma instituição, uma associação, mas um espaço livre para articulações e para o fomento de iniciativas inspiradas na dinâmica do compartilhamento e na construção da cultura do comum.
De alguma forma isso é o que nos define. Não é necessário ser de esquerda para ser midialivrista, mas é impossível sê-lo sem estar associado à prática do copy left ou do creative commons. Quem pensa o mundo na lógica do copy right não pode se reivindicar ou se reconhecer midialivrista. E ser midialivrista também é um ato de se reivindicar e se reconhecer.
É por isso que quase todos os midialivristas são de esquerda. Porque não estão associados à crença de que tudo passa pelo mercado. E de que precisa virar mercadoria.
Como eu vi outro dia o meu amigo Sergio Amadeu dizer, não existe almoço de graça, mas existe software livre e gratuito. E milhares de pessoas trabalhando sem receber nada para desenvolvê-lo.
Plagiando o Sérgio Amadeu, não existe almoço de graça, mas existe informação gratuita. E livre das influências do mercado. Sem ter sido pensada para fazer parte de um projeto que precisa de publicidade comercial, por exemplo, para existir.
Quanta gente em todos os cantos do Brasil e do mundo não está trabalhando de graça para contestar as versões dos conglomerados midiáticos? Quanta gente não está fazendo rádio livre e comunitária nas favelas brasileiras para poder levar prestação de serviço e opções de cultura e lazer diferenciadas para milhões de pessoas? Quanta gente não está fazendo produções em vídeo e construindo um registro alternativo dos nossos tempos ao postá-las, por exemplo, no youtube? Quanta gente sem ganhar nada não tornou a Wikipédia em um enorme manancial de informação?
Os midialivristas fazem comunicação porque a entendem como direito humano. As pessoas querem se comunicar, dizer o que pensam, opinar. Elas precisam fazer isso para se sentirem participes de uma sociedade democrática.
Até porque sem uma ampla diversidade informativa, a democracia se apequena. Torna-se de grupos, de poucos. Daqueles mesmos grupos que levaram com que milhares de pessoas de todas as partes do planeta se dirigissem em 2001 para Porto Alegre e gritassem: “um outro mundo é possível”.
Por isso, dá pra afirmar sem medo de errar que o movimento da mídia livre é essencialmente político. Até porque ele coloca em xeque a lógica do sistema capitalista. E para usar um outro termo desgastado: ele é revolucionário.
Nós, midialivristas, temos muitos desafios pela frente. Mas não poderemos enfrentá-los se quisermos ser a antítese em conteúdo daquilo que criticamos. Mas ao mesmo tempo não podemos nos seduzir pela forma daqueles que hoje oprimem.
A mídia livre precisa apostar na horizontalidade. Num movimento de milhões. E não em grandes projetos de alguns. Em outros grupos grandões de comunicação que se digam mais pra cá do que pra lá. Que tenham um discurso mais próximo do que acreditamos.
A mídia livre precisa ser colaborativa, horizontal, comum e livre de interesses de grupos. É isso que pode fazer com que esse movimento se amplie. E se torne de fato importante e revolucionário.
Ser midialivrista é também ser revolucionário. Unamo-nos.
Retirado do blog Altermundo: http://www.altermundo.org/uma-contribuicao-sobre-o-conceito-de-midia-livre/

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Tá no ar... o velho com cheiro de novo

O novo programa de Marcelo Adnet e Marcius Melhem, "Tá no Ar", teve destaque em sua estréia na grade da Rede Globo ontem. Adenet busca elementos que o destacaram na MTV para trazer uma roupagem "nova", (Não se trata de uma novidade para quem viu TV Pirata e a própria MTV) para novo humorístico global. O primeiro é a critica a TV, que para ser feita quebrou com o sistema de autorreferência da Globo e passou a fazer criticas e menções a outros canais e a internet. Obviamente as criticas são as apelações dos outros, e não uma autocritica. Afinal ridicularizar o Jornalismo Datena e apontar que o Pânico mostra bundas para subir a audiência, a internet já faz a tempos e é relativamente fácil para quem transmite o BBB ou exibe o corpo de suas belas atrizes depois do doutoral e antiquado JN.
Contudo o personagem que mais me chamou a atenção foi o "Crítico da Globo", visual desleixadamente estereotipado, com sotaque nordestino, com vários panfletos contra a emissora no quarto, na frente do computador como se fosse num vlog do youtube. Suas intervenções antecipam as criticas e as incluem no universo que o programa pretende abordar e na velocidade que remete, não apenas ao hábito de trocar constantemente de canais, mas ao hábito de navegar na internet baixando e levantando janelas simultaneamente.
Particularmente muito me incomodou o "Crítico da Globo" pois ele ridiculariza e pasteuriza o discurso da democratização da mídia como se fosse um ataque cego a Globo simplesmente pelo seu destaque, sucesso e tradição, que no momento são bem discutíveis. Entretanto o debate sobre a mídia, de fato, não pode cair no discurso simplista de simplesmente "derrubar a Globo" mas de reivindicar e pensar a TV que queremos.
O programa teve momentos interessantes como o Dr. Sus que enxerga virose em tudo (ao invés de tirar sarro de médicos cubanos...). Todavia por mais positiva que pareca qualquer critica positiva dentro da tela da Globo, elas são criticas já assimiladas, feitas de dentro. O que parece ser inovador, dinâmico, critico, é contraditoriamente uma "abertura", uma tentativa desesperada de reverter o processo que está tirando o público da Televisão para a internet, pois, por mais cômodo que seja alguém trocando de canal para você decidindo o que você vai ver na TV, ter o controle - mesmo que numa sensação pueril - é insubstituível.

quarta-feira, 19 de março de 2014

A mulher arrastada tinha nome!


Você sabe quem é Cláudia da Silva Ferreira? No que dependesse das noticias da mídia não.
O ocorrido foi amplamente divulgado, com títulos que giram entorno da notícia de que "Uma mulher arrastada por viatura". (Conforme ilustra os recortes na imagem)
Trata-se de uma atrocidade cometida pela polícia contra Cláudia, suavizada friamente pelos meios de comunicação. A suavização deste assassinato consiste basicamente em acentuar fortemente a singularidade da noticia, retirando elementos que implicariam em especificar o caráter particular do ocorrido.
Palavras essenciais para contextualizar a notícia como "policiais" que apontariam quem fez a ação, e "assassinato" que descreveria a ação em si bastariam para dar uma base particular mínima para entender, não apenas o que de especifico aconteceu, mas trazer elementos para pensar a sociedade. Contudo o pior aspecto desta notícia é a despersonalização da vítima, que chega a ser perverso. O silêncio destas manchetes é ensurdecedor.
Essa visão de mundo destes jornais está longe das inalcançáveis "objetividade" e "imparcialidade" mas intimamente próximas com um compromisso na manutenção deste tipo de ação, uma vez que a polícia só é denunciada quando não reprime com mais força as mesmas populações que vitimam.  

(fonte)
Que contraste gritante temos nestas notícias em comparação as mortes provocadas por favelados!

domingo, 16 de março de 2014

Um troféu para a mídia arcaica

Vendo o "Melhores do Ano" da Rede Globo é interessante notar o esforço da atração em se incrementar visualmente, como se fosse um Oscar da TV. Melhorar a aparência é o que resta pois na essência o que sustenta a relevância de uma atração como esta é a autorreferência da emissora.
Não torturarei ninguém, comentando categoria por categoria (até porque não vi o programa todo) do que poderia chamar de "Funcionários do ano", pois não é por se tratar de uma emissora de TV, com todos recursos de exposição que ela tem que o "Melhores do ano" se diferencia, na essência, de um mural de puxa-sacos onde se lê: "Funcionário do Mês". Tudo vendido como se fosse um prêmio de arte.
Mas não posso me furtar de comentar a categoria de Jornalismo, em que estavam concorrendo duas apresentadoras de luxo e o colega/chefe delas, William Bonner, que venceu o prêmio. Em seu discurso de vencedor, uma amostra das concepções mais arcaicas do jornalismo.

A "Objetividade Jornalística" que faz com que o jornalista seja capaz de ficar a parte e neutro diante os fatos. Também comentou a diferença do jornalista para o médico pois este não pode ficar a parte, pela pessoa estar ali na frente dele. Também comentou uma tal de equidistância que seja lá o que signifique para ele, o investe de uma aura de neutralidade. Resumindo, tudo o que há de mais conservador e conveniente para o status quo em que sua empresa mantém desde antes da nefasta aliança com os militares em 1964.
Defender este tipo de jornalismo, é como defender a sangria na medicina atual, ou defender o Fato Histórico, os atos políticos dos Grandes Homens como unidade mais importante da História. Em resumo, basta dizer que é extremamente arcaico, mas com a diferença de que ao contrário da sangria, coisa do período medieval, ou ainda, dar importância central aos "Grades Homens", essa concepção de jornalismo expostas por Bonner são extremamente usuais por dois motivos principais.
Em primeiro lugar, as alternativas em jornalismo além da visão funcionalista não encontram espaço pois representam uma franca ameaça a velha mídia corporativa. A internet esta ai para comprovar isso, ocupada cada vez mais por novos modos de mídia que vão lutando ingloriamente em paralelo a reprodução dos velhos métodos da televisão.
Em segundo a própria concepção de jornalismo de Bonner, que Adelmo Genro filho classificaria como Funcionalista, é profundamente conservadora pois foi constituída no momento histórico de avanço do capitalismo. Esta visão arcaica de nada é neutra, nem imparcial, nem puramente objetiva, porque tem lado e tem partido, que por sua vez é bem definido e bem enrustido.
O vídeo do Rafucko, põe a baixo essa visão funcionalista com estilo e bom humor!

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Em tempo, uma dica de leitura sobre jornalismo pode ser encontrada de graça aqui. Trata-se da obra de Adelmo Genro filho, Segredo da Pirâmide.