domingo, 31 de agosto de 2014

O racismo no singular da notícia

Na internet muito já se xingou Patrícia Moreira, pela atitude indefensável de chamar o goleiro Aranha de macaco. Até o momento este foi o maior desdobramento de sua atitude racista. Como procuro fazer neste blog, quero trazer algum aspecto sempre relacionando a mídia e sua influência em certas questões. Neste caso de racismo, o que aponto primeiramente é a resposta de uma população que muitas vezes reproduz o racismo cotidianamente e ao mesmo tempo execrou a menina pela atitude racista. Arrisco uma explicação no fato de que no Brasil não se entende claramente o que é racismo, preconceito e discriminação.
O racismo predominante em nosso país não permite que se chame um negro de macaco abertamente em rede nacional, como Patricia fez, porém permite modos mais silenciosos de racismo, que tem se perpetuado de forma mais eficiente que, por exemplo nos EUA. Ironicamente o que a garota fez, era para estar encoberta pela multidão de sua torcida, onde outros torcedores também faziam o mesmo que ela. Mas sua atitude foi capturada pela transmissão e virou noticia.
Ao transformar-se em noticia (Torcedora chama goleiro de macaco em jogo da Copa do Brasil) a questão foi reduzida a sua excepcionalidade, (O racismo aberto), e também como desdobramento de outra noticia, (O jogo Grêmio e Santos pela Copa do Brasil), que juntos potencializam a atenção que a noticia pode receber.
O que pretendo salientar neste breve comentário é sobre os desdobramentos que alimentam o conservadorismo da sociedade ao singularizar ao extremo o acontecido, como tem sido tratado nos meios de comunicação. Explico. Patricia está sendo isolada pela mídia das instituições que sempre se mostraram conservadoras e obtusas em relação ao racismo. Ao reduzir a notícia ao evento isolado, turva-se a situação para preservar os clubes de futebol, a CBF, e as próprias emissoras de Rádio e TV. A partir daí pauta das noticias tende a não ser mais o racismo, mas a demissão do local onde ela trabalhou, as repercussões negativas em sua vida. etc.
O que devemos esperar de uma noticia que ressalte o combate ao racismo? Não é defendido que uma noticia de jornal deva conter uma aula de história ou de sociologia no anexo, mas que em seu conteúdo não se furte de fazer apontamentos que ao menos reconheçam esses conhecimentos ao invés de entregá-los ao senso comum.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Jornalismo corporativo demoniza Democratização da Mídia em Debate na Band.

Para quem deseja Liberdade de Empresa, o termo Democratização da Mídia sai amargo da boca.
No debate ocorrido na Bandeirantes, dia 26/08 (Terça-feira) teve além do palanque dos candidatos um palanque extra com quatro componentes. Eram todos eles jornalistas da emissora que promoveram uma intensa defesa de seus interesses através da formulação de perguntas para os candidatos.
Não vou analisar exaustivamente cada pergunta, mas uma amostragem de uma no mostra um dos momento sem que o discurso político ficou mais latente. Boris Casoy em defesa da própria casa, pauta da Democratização da Mídia de forma vergonhosa. Começou, trazendo sua opinião a frente da pergunta, definindo como "tentativa de censura a liberdade de expressão" a Democratização da Mídia, anunciando a pauta com desprezo antes de interpelar o candidato Eduardo Jorge do PV, com comentários da presidente Dilma.
A resposta de Eduardo foi concordar com Dilma, usando poucos segundos dos seus dois minutos. Esta por sua vez diz que a mídia é "um valor básico da democracia", que defendeu um controle econômico dos meios de comunicação e em seguida abrangeu a questão para além das concessões de Rádio e TV, tirando o foco que é o que realmente interessava saber.
A janela para este tipo de debate, na própria TV aberta, domínio dos latifúndios midiáticos, é mínima, mesmo no espaço aberto pelas eleições. E neste debate, ou na sua falta, vemos uma contradição fundamental no jornalismo corporativo.De um lado tempos a visão dos grandes meios de comunicação de que o jornalismo é defensor do interesse público e se prostra como mais um prestador de serviço, entre eles o debate de candidatos, ou seja, é imparcial e do outro lado vemos um debate organizado com uma bancada montada para os jornalistas da casa que foi um verdadeiro palanque onde âncoras opinadores  realizaram seu discurso político. Definitivamente as rodadas com jornalistas fazendo perguntas escancarou o espaço para forçarem o debate para onde a bandeirantes desejava, pressionando seus candidatos indigestos e aliviando para outros.
Como defender o interesse público, dentro de um veículo privado, submetido a lógica do lucro? Para quem deseja Liberdade de Empresa, o termo Democratização da Mídia sai amargo da boca.