quarta-feira, 19 de março de 2014

A mulher arrastada tinha nome!


Você sabe quem é Cláudia da Silva Ferreira? No que dependesse das noticias da mídia não.
O ocorrido foi amplamente divulgado, com títulos que giram entorno da notícia de que "Uma mulher arrastada por viatura". (Conforme ilustra os recortes na imagem)
Trata-se de uma atrocidade cometida pela polícia contra Cláudia, suavizada friamente pelos meios de comunicação. A suavização deste assassinato consiste basicamente em acentuar fortemente a singularidade da noticia, retirando elementos que implicariam em especificar o caráter particular do ocorrido.
Palavras essenciais para contextualizar a notícia como "policiais" que apontariam quem fez a ação, e "assassinato" que descreveria a ação em si bastariam para dar uma base particular mínima para entender, não apenas o que de especifico aconteceu, mas trazer elementos para pensar a sociedade. Contudo o pior aspecto desta notícia é a despersonalização da vítima, que chega a ser perverso. O silêncio destas manchetes é ensurdecedor.
Essa visão de mundo destes jornais está longe das inalcançáveis "objetividade" e "imparcialidade" mas intimamente próximas com um compromisso na manutenção deste tipo de ação, uma vez que a polícia só é denunciada quando não reprime com mais força as mesmas populações que vitimam.  

(fonte)
Que contraste gritante temos nestas notícias em comparação as mortes provocadas por favelados!

domingo, 16 de março de 2014

Um troféu para a mídia arcaica

Vendo o "Melhores do Ano" da Rede Globo é interessante notar o esforço da atração em se incrementar visualmente, como se fosse um Oscar da TV. Melhorar a aparência é o que resta pois na essência o que sustenta a relevância de uma atração como esta é a autorreferência da emissora.
Não torturarei ninguém, comentando categoria por categoria (até porque não vi o programa todo) do que poderia chamar de "Funcionários do ano", pois não é por se tratar de uma emissora de TV, com todos recursos de exposição que ela tem que o "Melhores do ano" se diferencia, na essência, de um mural de puxa-sacos onde se lê: "Funcionário do Mês". Tudo vendido como se fosse um prêmio de arte.
Mas não posso me furtar de comentar a categoria de Jornalismo, em que estavam concorrendo duas apresentadoras de luxo e o colega/chefe delas, William Bonner, que venceu o prêmio. Em seu discurso de vencedor, uma amostra das concepções mais arcaicas do jornalismo.

A "Objetividade Jornalística" que faz com que o jornalista seja capaz de ficar a parte e neutro diante os fatos. Também comentou a diferença do jornalista para o médico pois este não pode ficar a parte, pela pessoa estar ali na frente dele. Também comentou uma tal de equidistância que seja lá o que signifique para ele, o investe de uma aura de neutralidade. Resumindo, tudo o que há de mais conservador e conveniente para o status quo em que sua empresa mantém desde antes da nefasta aliança com os militares em 1964.
Defender este tipo de jornalismo, é como defender a sangria na medicina atual, ou defender o Fato Histórico, os atos políticos dos Grandes Homens como unidade mais importante da História. Em resumo, basta dizer que é extremamente arcaico, mas com a diferença de que ao contrário da sangria, coisa do período medieval, ou ainda, dar importância central aos "Grades Homens", essa concepção de jornalismo expostas por Bonner são extremamente usuais por dois motivos principais.
Em primeiro lugar, as alternativas em jornalismo além da visão funcionalista não encontram espaço pois representam uma franca ameaça a velha mídia corporativa. A internet esta ai para comprovar isso, ocupada cada vez mais por novos modos de mídia que vão lutando ingloriamente em paralelo a reprodução dos velhos métodos da televisão.
Em segundo a própria concepção de jornalismo de Bonner, que Adelmo Genro filho classificaria como Funcionalista, é profundamente conservadora pois foi constituída no momento histórico de avanço do capitalismo. Esta visão arcaica de nada é neutra, nem imparcial, nem puramente objetiva, porque tem lado e tem partido, que por sua vez é bem definido e bem enrustido.
O vídeo do Rafucko, põe a baixo essa visão funcionalista com estilo e bom humor!

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Em tempo, uma dica de leitura sobre jornalismo pode ser encontrada de graça aqui. Trata-se da obra de Adelmo Genro filho, Segredo da Pirâmide.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Traumatismo ucraniano no Brasil


Enquanto os neofascistas ucranianos ganham apoio da política externa estadunidense, a mídia brasileira está reproduzindo as mesmas notícias sobre a situação que a mídia ianque, sem tirar nem por. Parece mais um serviço de tradução da língua inglesa. Fazem parecer que o golpe na Ucrânia é uma aurora dourada de democracia e liberdade. Obama encobre os neofascistas da Ucrânia e de quem mais for preciso, Pútin faz o mesmo com de seu país e no Brasil já não se houve notícia sequer de ataques de gangues neofascistas em São Paulo.

O que vemos na Televisão: Toda a raiva do mundo para os criminosos negros no jornalismo "Datena", toda a complacência para os "justiceiros" e sua justiça fascista. Por que nunca vi uma sabatinada de Datena sobre um justiceiro ou tatuado com a Hakkencross? Não seria interessante ver Datena despejar o discurso de "Família, Deus e Pátria" em um neonazi? Seria uma novidade na televisão brasileira.
O efeito desejado é parecer que o fascismo como força política simplesmente sumiu da face da terra, morrendo com Hitler em Berlin, restando apenas alguns malucos fantasiados que podem até arrancar risadas.

Mas o buraco é mais embaixo, os símbolos são requentados mas as ideias e as práticas de violência como política são as mesmas. O aviso está dado.



Mas o caro habitante de terras verde-amarelas não precisa se preocupar pois essas coisas estão lá na Ucrânia e na Europa de um século atrás...

terça-feira, 4 de março de 2014

Por que esta inocuidade agora?

Uma questão tem me intrigado recentemente: Porque neste ano de 2014 em que teremos Copa do Mundo e Eleições a novela que passa na Rede Globo é a mais insossa "criação" de Manuel Carlos? Na história da Telenovela Brasileira já tivemos folhetins que abordavam de forma tão impactante a sociedade brasileira, que é realmente perturbador que uma novela tão morna, para não dizer gélida e sem graça, sem conteúdo esteja passando neste horário, justamente agora.
Desde "Roque Santeiro" que mostrava a política do Coronelismo, sendo inclusive censurada em sua primeira versão.
Desde "Pantanal", que trouxe o fantástico das novelas dos anos 70 e 80 da Globo com críticas ao governo Collor, que virou moda até seu impeachment.
Desde "O Salvador da Pátria" que trazia um Sasá Mutema, um sujeito matuto que se corrompe quando chega ao poder, numa clara alusão a Lula que se candidatara aquela época a primeira vez a presidência. Ao fim das contas Collor se elegeu...
Essas novelas que tocavam e buscavam influir na sociedade brasileira - manipulando - em seus momentos críticos.


Também, mais adiante, nos anos 90, temos "O Rei do Gado" que em certa altura defendeu a Reforma Agrária tendo como herói um líder do MST (sem dar nome ao gado, obviamente) que tem como ápice uma morte de mártir. Foi uma exceção em tempos que a distribuição alimentícia no país estava entrando em colapso e até a Rede Globo apoiou uma certa Reforma Agrária.
Certa cena nunca mais saiu de minha mente. Já nos últimos capítulos da novela, logo após a morte de Regino um líder dos sem-terra, um grupo de militantes caminha triste e sem rumo, quando uma personagem que não lembro exatamente quem era, pega a bandeira vermelha do militante joga no mato e oferece uma bandeira branca, o militante aceita e todos os outros seguem com suas novas bandeiras com um ar mais confiante. Sabemos que Reforma não é Revolução, assim como o uma bandeira branca não tem o mesmo simbolismo de uma vermelha. Uma conciliação de classes sempre soa mais bonita que a luta de classes.


Com todas as manipulações e todas as criticas a serem feitas as novelas, principalmente as da Globo, elas sempre estavam ali em horário nobre fazendo a cabeça das massas. Hoje a primeira tela não se pronuncia através da arte, mas está em fúria nos editoriais e das notícias.
O silencio que esta inocuidade irritante desta atual novela é ainda uma incógnita!