domingo, 16 de março de 2014

Um troféu para a mídia arcaica

Vendo o "Melhores do Ano" da Rede Globo é interessante notar o esforço da atração em se incrementar visualmente, como se fosse um Oscar da TV. Melhorar a aparência é o que resta pois na essência o que sustenta a relevância de uma atração como esta é a autorreferência da emissora.
Não torturarei ninguém, comentando categoria por categoria (até porque não vi o programa todo) do que poderia chamar de "Funcionários do ano", pois não é por se tratar de uma emissora de TV, com todos recursos de exposição que ela tem que o "Melhores do ano" se diferencia, na essência, de um mural de puxa-sacos onde se lê: "Funcionário do Mês". Tudo vendido como se fosse um prêmio de arte.
Mas não posso me furtar de comentar a categoria de Jornalismo, em que estavam concorrendo duas apresentadoras de luxo e o colega/chefe delas, William Bonner, que venceu o prêmio. Em seu discurso de vencedor, uma amostra das concepções mais arcaicas do jornalismo.

A "Objetividade Jornalística" que faz com que o jornalista seja capaz de ficar a parte e neutro diante os fatos. Também comentou a diferença do jornalista para o médico pois este não pode ficar a parte, pela pessoa estar ali na frente dele. Também comentou uma tal de equidistância que seja lá o que signifique para ele, o investe de uma aura de neutralidade. Resumindo, tudo o que há de mais conservador e conveniente para o status quo em que sua empresa mantém desde antes da nefasta aliança com os militares em 1964.
Defender este tipo de jornalismo, é como defender a sangria na medicina atual, ou defender o Fato Histórico, os atos políticos dos Grandes Homens como unidade mais importante da História. Em resumo, basta dizer que é extremamente arcaico, mas com a diferença de que ao contrário da sangria, coisa do período medieval, ou ainda, dar importância central aos "Grades Homens", essa concepção de jornalismo expostas por Bonner são extremamente usuais por dois motivos principais.
Em primeiro lugar, as alternativas em jornalismo além da visão funcionalista não encontram espaço pois representam uma franca ameaça a velha mídia corporativa. A internet esta ai para comprovar isso, ocupada cada vez mais por novos modos de mídia que vão lutando ingloriamente em paralelo a reprodução dos velhos métodos da televisão.
Em segundo a própria concepção de jornalismo de Bonner, que Adelmo Genro filho classificaria como Funcionalista, é profundamente conservadora pois foi constituída no momento histórico de avanço do capitalismo. Esta visão arcaica de nada é neutra, nem imparcial, nem puramente objetiva, porque tem lado e tem partido, que por sua vez é bem definido e bem enrustido.
O vídeo do Rafucko, põe a baixo essa visão funcionalista com estilo e bom humor!

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Em tempo, uma dica de leitura sobre jornalismo pode ser encontrada de graça aqui. Trata-se da obra de Adelmo Genro filho, Segredo da Pirâmide.

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